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terça-feira, 19 de novembro de 2013

SOU DE FÁCIL SUGESTÃO - CRÔNICA






SOU DE FÁCIL SUGESTÃO
Ysolda Cabral


E cá estou novamente no coletivo opcional, com ar-condicionado, gente bonita, bem vestida, com cheiro de sabonete, às 06h30min da manhã, para o translado casa / trabalho. É segunda-feira, 18.11.2013. Sento-me junto a uma loura, cujo bumbum invade um tantinho do meu assento. Penso com meus botões: melhor é ir sentada que em pé... Vou ter que me ajeitar por aqui mesmo. Levantei o braço da minha poltrona e me sentei deixando-o levantado para caber o que sobrava de mim. Seguimos viagem. Eu me sentia incomodada, pois parte do meu quadril reclamava da posição enquanto a loura se esparramava praticamente nas duas poltronas. De soslaio eu acompanhava seus quase imperceptíveis movimentos. Suas mãos de unhas enormes, pintadas de branco, com bordado em esmalte preto nas extremidades, me chamaram a atenção. Achei bonito! Olhei para as minhas e mais que depressa as escondi para que ela não visse o quanto estavam curtinhas e sem esmalte. Por vezes me entrego a certo desleixo... Alguns poucos quilômetros à frente, notei que ela abriu discretamente a bolsa, a qual trazia no colo e tirou dali alguma coisa para mastigar. Pareceu-me algum tipo de cereal, porém o gosto com que ela comia não devia ser! Talvez um biscoito bem docinho, tipo alfenim que derrete na boca, tal a pressa com que ela engolia e pegava mais. À medida que ia comendo, me parecia que o traseiro dela crescia e eu sentia o meu cada vez mais fora do assento. Tanto que me via completamente empenada, invadindo o corredor causando certo atrapalho para quem por ele precisava passar. Aquilo começou a me irritar. De pronto compreendi que ela não iria parar enquanto não acabasse com todo estoque que trazia.

- Ah, conheço bem as gordinhas! Se conheço!...

Mais à frente, já me sentindo quase caindo da poltrona, ela abriu outra bolsa, que estava por debaixo da primeira e tirou dali nova porção daquilo que comia com tanto gosto. Lembrou-me um armário de comida com gavetas. Então pensei: isso não pode continuar! Aonde eu vou parar? Tentei lembrar se na minha bolsa havia alguma coisa que eu pudesse também mastigar e que me fizesse crescer para os lados... Aí pensei: Ora! A desvantagem continuará sendo minha. Além de ganhar uns quilos a mais, quem cairá no corredor ainda serei eu. Ela está bem segura junto da janela!

Finalmente chegou minha parada. Desci metade meio dormente e a outra metade louca de fome.

É que sou de fácil sugestão.

- Que tristeza! (Risos)


Recanto das Letras
 em 19/11/2013
Código do texto: T4578153