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terça-feira, 25 de junho de 2013

SOU INEGOCIÁVEL... BEM, NEM TANTO ASSIM


Crônica dedicada

SOU INEGOCIÁVEL... BEM, NEM TANTO ASSIM!
Ysolda Cabral



Chegou visita, dona Dilça! Era assim que a babá, de nome esquisito  Natanael, avisava à mamãe quando alguém chegava lá em casa de surpresa. Eu, mais que depressa, me preparava para uma rápida apresentação que envolvia música e poesia. Cansada de recitar ‘’ Eu sou pequeninha, tamanho de um botão...  E de cantar ‘’ Um passarinho me ensinou, uma canção feliz, e quando solitária estou, mais triste do que triste sou... ’’ resolvi que, naquele dia não haveria apresentação.

Ysoldinha, venha cá, minha filha! Fingindo não escutar, corri para o meu quarto, e ali fiquei bem quietinha. De repente minha irmã, a toda obediente e certinha, entrou, e, me vendo, avisou à mamãe de imediato. Num instante todos correram para o quarto, tentando me convencer a fazer o show, inutilmente, mesmo considerando todas as propostas tentadoras que me fizeram. Tais como: uma semana comendo todas as minhas guloseimas preferidas e na hora que eu quisesse; andar de bicicleta até onde eu aguentasse; subir nos pés de goiaba da casa de minha tia Olga e no final de semana ir para o sítio de meu avô materno, sem a cartilha do abc e sem a tabuada; e, por aí as propostas iam se fazendo e eu recusando todas.

Até que escutei alguém gritar ‘’ socorro minha madrinha’’! Num minuto cheguei lá fora. Era o garotinho Valdeci (05 anos aprox.), que morava na cerca de avelós, como ele próprio informava, numa estrada conhecida em Caruaru, como Malhada da Caveira, o qual aflito me contava que na sua ‘’casa’’ tinha chegado um ''nenê novinho'' e que sua mãe não tinha nenhum pano pra colocar no seu bumbum. Meu Deus, que tragédia!

Olhei pra mamãe suplicando ajuda e ela mais que depressa foi buscar tudo o que tinha e sabia ser de máxima importância para ajudar a mãe do meu ‘’afilhado’’ naqueles primeiros momentos – afilhado desde o dia que lhe dei um banho, lhe tirei o grude, os piolhos e lhe matriculei numa escola perto de nossa casa.

Quando mamãe chegou com o pacote, eu lhe pedi para ir junto com Valdeci e antes mesmo que ela respondesse, comecei a apresentação do ‘’recital,’’ de um fôlego só. Ao concluir, sem esperar autorização, coloquei os preciosos pacotes,  incluindo o Valdeci, no bagajeiro da minha biscicleta e disparei ao encontro do ''bebê novinho.''   

Ainda hoje sou assim, nunca consegui mudar o meu jeito de ser. Até há uma hora atrás eu havia decidido não escrever mais nenhuma linha e aí recebo as mais lindas rosas, acompanhadas de uma belíssima declaração, e, cá estou a escrever lembranças bobas que farão o meu amor dar risada.


Recife-PE
Em 25.06.2013
Imagem ilustração Google.


Recanto das Letras em 25/06/2013

Código do texto: T4357847