Crônica dedicada
SOU INEGOCIÁVEL... BEM, NEM TANTO ASSIM!
Ysolda Cabral
Chegou visita, dona Dilça! Era assim que a babá, de nome
esquisito Natanael, avisava à mamãe
quando alguém chegava lá em casa de surpresa. Eu, mais que depressa, me
preparava para uma rápida apresentação que envolvia música e poesia. Cansada de
recitar ‘’ Eu sou pequeninha, tamanho de um botão... E de cantar ‘’ Um passarinho me ensinou, uma
canção feliz, e quando solitária estou, mais triste do que triste sou... ’’
resolvi que, naquele dia não haveria apresentação.
Ysoldinha, venha cá, minha filha! Fingindo não escutar,
corri para o meu quarto, e ali fiquei bem quietinha. De repente minha irmã, a
toda obediente e certinha, entrou, e, me vendo, avisou à mamãe de imediato. Num
instante todos correram para o quarto, tentando me convencer a fazer o show, inutilmente,
mesmo considerando todas as propostas tentadoras que me fizeram. Tais como: uma
semana comendo todas as minhas guloseimas preferidas e na hora que eu quisesse;
andar de bicicleta até onde eu aguentasse; subir nos pés de goiaba da casa de
minha tia Olga e no final de semana ir para o sítio de meu avô materno, sem a
cartilha do abc e sem a tabuada; e, por aí as propostas iam se fazendo e eu
recusando todas.
Até que escutei alguém gritar ‘’ socorro minha madrinha’’!
Num minuto cheguei lá fora. Era o garotinho Valdeci (05 anos aprox.), que
morava na cerca de avelós, como ele próprio informava, numa estrada conhecida
em Caruaru, como Malhada da Caveira, o qual aflito me contava que na sua
‘’casa’’ tinha chegado um ''nenê novinho'' e que sua mãe não tinha nenhum pano
pra colocar no seu bumbum. Meu Deus, que tragédia!
Olhei pra mamãe suplicando ajuda e ela mais que depressa foi
buscar tudo o que tinha e sabia ser de máxima importância para ajudar a mãe do
meu ‘’afilhado’’ naqueles primeiros momentos – afilhado desde o dia que lhe dei
um banho, lhe tirei o grude, os piolhos e lhe matriculei numa escola perto de
nossa casa.
Quando mamãe chegou com o pacote, eu lhe pedi para ir junto
com Valdeci e antes mesmo que ela respondesse, comecei a apresentação do
‘’recital,’’ de um fôlego só. Ao concluir, sem esperar autorização, coloquei os
preciosos pacotes, incluindo o Valdeci,
no bagajeiro da minha biscicleta e disparei ao encontro do ''bebê novinho.''
Ainda hoje sou assim, nunca consegui mudar o meu jeito de
ser. Até há uma hora atrás eu havia decidido não escrever mais nenhuma linha e
aí recebo as mais lindas rosas, acompanhadas de uma belíssima declaração, e, cá
estou a escrever lembranças bobas que farão o meu amor dar risada.
Recife-PE
Em 25.06.2013
Imagem ilustração Google.
Recanto das Letras em 25/06/2013
Código do texto: T4357847